No Brasil, o primeiro transplante de coração foi realizado no final da década de 1960. Mais de 50 anos depois, com o desenvolvimento de pesquisas, metodologias e novos medicamentos, a realidade é promissora para os pacientes com indicação de transplante, que se tornou uma esperança de recomeço.
O que é transplante de coração?
Um transplante consiste na substituição de um órgão doente, que já não consegue mais realizar suas funções, por um sadio. É possível doar alguns órgãos ainda em vida, mas, no caso do coração, essa cirurgia acontece com base na autorização da família de um doador que sofreu morte cerebral.
O transplante cardíaco é indicado para pacientes que enfrentam cardiopatias graves que não podem ser tratadas com terapias, medicamentos ou procedimentos menos invasivos. Confira alguns exemplos:
- insuficiência cardíaca terminal;
- doença coronariana;
- arritmia;
- miocardiopatia hipertrófica;
- doenças cardíacas congênitas;
- pacientes que utilizam dispositivos de assistência circulatória.
Como é feito o transplante de coração?
A autorização dos familiares coloca o coração à disposição do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que é quem gerencia a fila única de candidatos a órgãos. Os próximos passos são:
- preparação do órgão para transporte; o SNT entra em contato com o primeiro da lista e o hospital inicia sua preparação;
- no centro cirúrgico, os médicos desviam o sangue do coração doente para uma máquina de circulação extracorpórea (também conhecida como “coração artificial"), que mantém o fluxo sanguíneo durante toda a operação, possibilitando a retirada do órgão;
- os médicos colocam o coração novo e restabelecem a circulação do paciente, que permanece em observação por cerca de 15 dias.
- Todo o procedimento precisa acontecer em quatro horas, tempo máximo que o coração pode ficar armazenado.
Quanto tempo dura um transplante de coração?
A cirurgia de transplante de coração depende de um time multiprofissional que consiste em duas equipes cirúrgicas com, pelo menos, dois cirurgiões cada uma, dois anestesiologistas, um enfermeiro perfusionista e dois instrumentadores, além dos enfermeiros do centro cirúrgico.
Quanto à duração, o Dr. Rodrigo Segalote, coordenador de Transplante Cardíaco do Hospital São Lucas Copacabana, explica que a cirurgia pode levar de 8 a 12 horas, a depender se o receptor já possui um dispositivo de assistência cardiopulmonar e/ou se já passou por outra cirurgia cardíaca.
Quais são os riscos do procedimento?
Como toda intervenção cirúrgica, o transplante de coração também oferece risco de infecções. Além disso, durante os primeiros cinco anos, é necessário realizar acompanhamento mais atencioso para observar as chances de uma possível rejeição do órgão.
“O transplante cardíaco possui como risco imediato o sangramento do sítio cirúrgico no pós-operatório, assim como toda cirurgia de coração", completa o médico.
Vale ressaltar que, mesmo com os riscos, o benefício é infinitamente maior, pois, além de proporcionar sobrevida aos pacientes, o transplante também devolve o bem-estar a essas pessoas.
Quem pode fazer esse tipo de transplante?
De acordo com a Dra. Flavia Verocai, coordenadora da Cardiointensiva do Hospital São Lucas Copacabana, são eletivos para o transplante de coração pacientes com:
- insuficiência cardíaca grave que não respondem ao tratamento medicamentoso, que necessitam de medicamentos venosos e/ou de ajuda de aparelhos para bombear o sangue e/ou respirar;
- angina que, além de não responderem aos medicamentos, não são candidatos à cirurgia de revascularização;
- doença do músculo cardíaco sem condições de outros tratamentos;
- alterações graves no ritmo cardíaco, com risco de vida; insuficiência cardíaca avançada, com tratamento medicamentoso otimizado, porém com pouca capacidade funcional (cansaço em repouso ou aos mínimos esforços).
“Por outro lado, nem todos os pacientes que preenchem esses critérios poderão ser submetidos ao transplante, pois há métodos rigorosos de listagem que deverão ser minuciosamente analisados pela equipe multidisciplinar que compõe o time de transplante (cardiologista, cirurgião, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e assistente social)", explica a especialista.
Pós-operatório: saiba como funciona a recuperação
A recuperação inicial ocorre no período do pós-operatório imediato e, como em qualquer cirurgia cardíaca, depende do estado físico e das comorbidades prévias de cada paciente. Quanto mais grave o caso, mais tempo se leva na unidade de terapia intensiva.
Os medicamentos para evitar a rejeição do órgão novo podem facilitar o desenvolvimento de infecções que prolongam a internação, por isso é importante ficar atento aos primeiros sinais e sintomas de possível infecção e entrar em contato com a equipe. Inicialmente, é necessário o uso de antibióticos, antivirais ou antifúngicos, pois as doses dos imunossupressores são altas.
Os pacientes que recebem um órgão novo são submetidos a biopsias regulares (retirada de pequenos fragmentos do órgão), que, no caso do coração, são realizadas por meio de cateterismo cardíaco, e o material é enviado para análise e pesquisa de rejeição.
Depois da unidade de terapia intensiva, é iniciado um trabalho em conjunto com a fisioterapia e nutrição para, aos poucos, o paciente recuperar sua capacidade funcional.
“Esse trabalho iniciado em ambiente hospitalar continuará ambulatorialmente, em setor especializado de reabilitação cardiopulmonar. Os pacientes que recebem um órgão novo têm um compromisso sério consigo e com a equipe. É necessário tomar as medicações conforme orientado, seguir o programa de consultas multidisciplinares, fazer os exames solicitados, os exercícios e a dieta. Depois da fase de adaptação, os pacientes adquirem qualidade de vida e bem-estar", finaliza a Dra. Flávia.
Por fim, anote esta dica: não deixe de consultar seu cardiologista de forma regular, principalmente em caso de sintomas como dor no peito. O Hospital São Lucas Copacabana conta com equipamentos altamente tecnológicos e corpo clínico experiente para atender a casos em diversos graus de complexidade.
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